Revirando o baú, achei Chicó e me encantei

pronto , agora é só amassar e jogar fora

Fiz que não vi seu olhar
Falando alto sem parar
Sapateio os pés até ai
E se te encontro extasiado
Com uma descoberta nova
Trago a pipoca só pra te assistir

É, você não sabe quanto me faz bem
pensar que podemos reinventar
rabiscar uma casa, esboçar uma vida, pintar
um amor
depois amassar e jogar fora.
Deitado
Como dizia aquele ditado
Que não deu tempo pois atrasado
sempre chega na hora que o filme estava pra acabar.

Chic, chic, chic chicó
abotoa a camisa até o ultimo botão
chic chic chic chic chicó
vai dormir que o galo já cantó
a cantoria que se assovia no passar
dos carros
no movimento espatifado de uma noite sem fim
Chicó sai apressado, perfumado, galanteador
pra se esbarar com a guria .

Guloso pede dois maços de cigarro, engole um de passagem e logo outro encomenda pra viajem.
Já que não tinha nada pra fazer e cansava por demais ler, resolveu-se sentar pra escrever. Cagar em cima do papel-jornal.
Olha , lembrava-se como se fosse ali e agora, o homem velho, que tinha traços que poderiam ter sido bonitos, sentado do seu lado no metrô, segurando o jornal.

-Olha, veja isso. Até parece. Pensam que enganam a gente.Mas sabe qual a parte que mais me interessa?- fez o velho balançando o jornal.- A das tirinhas e do passatempo.- e volto os olhos cansados para o jornal, se ocupando em encontrar os sete erros dos quadrinhos do Laerte. E depois começou a completar o caça-palavras.
Chicó achou aquilo engraçado e começou a rir baixinho. Mas o velho percebeu.

-Não ri não. É a pura verdade. Se eu torcer ( fez ele torcendo o jornal com as duas mãos como quem torce uma roupa molhada) isso daqui, só sai lágrimas e sangue.

E Chicó parou de rir, estatizado pelos olhos azuis do velho rabugento, um Dom Casmurro dos tempos modernos.

Os dois voltaram os olhos para o desenho dos sete erros, dos dois lados um anjo arrumando sua áurea.