nunca fui boa com corações
com meu coração
nunca fui boa em corações
nunca fui um coração,
tenho um coração
ou talvez dois
talvez eu doe
um
quando morrer
me enterraram com eles
mas antes
quero doa-los
vivos
sadios
saudosos
vadios
vaidosos.            

Coraçãoborim


Música, e batida, é o meu ? É o seu? É o nosso coração que bate? Quem sente? Quem vai me ajudar com isso? O que eu faço com isso? Por favor me ajudem. Eu não sei, quando percebi já estava na minha mão. De quem é? De quem é, esse coração?
Quem bate? Quantos? Um? Dois?Milhões? Batem sozinhos num único som. Profundo, pro fundo! Agora! Se afunde. È bom , depois passa. Agora volte. Não se perca, você sempre tem que voltar. Pra onde? Pra quem? Pra quê? Um buquê não posso te dar. Me solte, não leia, não tente entender. O que ? A dor, só finge não te prender. Compreenda, respire e lamba. Reflita a marmita sempre está morna. A música é silêncio que deixou de existir, assim ,aflita, você me deixa cair.No chão , já não sou nada , não faço mais sentido. Me dê só seus sentimentos, raros, rasos, vasos quebrados. Me guarde na sua gaveta e só me tire de lá quando o terremoto passar. Quando eles já tiverem invadido, quebrado, destruído, gritando. Me deixe lá. Depois, só depois que tudo passar, me abra e me leia. Mas por favor, não se esqueça, nós vamos sempre existir.                   Ana Julia Carvalheiro

Música Frustada




Queria que minha poesia tivesse uns acordes.
Queria que um piano tocasse ao fundo, soltando as palavras
Um acordeon para fazer zig-zag com as pernas
Uma guitarra para fazer a solidão menos só
Uma batida de tambores para ecoar os sentimentos, e acompanhar o tun-tun do coração

Um baixo para a cabeça balançar, dedos tamborilando .
Queria um refrão bem fácil e bonito.
Um sentimento bem antigo renovado


Queria que minha poesia fosse harmônica como música
Que os sons não tivessem nome, mas sentidos
Queria escrever em ritmos, valsinhas, sambas, melodias.
Fazer os outros chorarem, lembrarem, se revoltarem.

Mas não sou música.
Apenas escrevo versos que queriam ser refrões
Rimas que queriam ser melódicas
Palavras que queriam ser acordes.

Ana Julia Carvalheiro

Morte Figurada


Estava morto
Morto no sentido figurado
Morto de cansaço
Morto de fome
Morto de reclamações
Morto de preocupações.
Morte de esperança.

Chegou em casa morto de vontade de um abraço
Deu comida para o cão sem dono
Deitou na cama e se enrolou nos lençóis
Assistiu seu próprio velório
Morto de ilusões
Quando estava quase pra morrer
Sonhou
E no seu sonho
Sonhou que vivia
Vivo de alegria
Vivo de amor
Vivo de elogios
Vivo de surpresas

Vivendo pulou na chuva
Vivendo cantou aquela música
Viveu um grande abraço que se transformou num grande amor
Continuou vivo até o fim do sonho.
Viveu um sonho inesquecível.
E ao acordar estava morto outra vez.

Ana Julia Carvalheiro